Mudar a chave ou a fechadura?
Foram precisos 22 anos para perceber o valor do ser humano incrível que habitava em mim.
Por muito tempo desdenhei da magnitude das coisas que eu era capaz de fazer por achar que não era boa o suficiente. Primeiro, por estar sempre a espera da aprovação de terceiros e, também, porque sempre tive medo de errar. Eu acabei por perceber que não era algo apenas incitado pelos outros, mas, que que vinha de mim mesma, ficava remoendo os meus erros por dias a tentar encontrar mil possíveis razões para as coisas acontecerem de certas maneiras.
A vida obrigou-me a acertar sempre, era acertar ou não ser ninguém na vida, dizia ela.
E, isto levou-me a criar uma "fortaleza" na qual eu buscava sempre proteger-me, preferia ficar na sombra a apostar todas as minhas fichas em algo e acabar por dar com a cara no chão. Seja na escola, em relacionamentos e até mesmo no dia-a-dia, Helena sempre foi aquela pessoa que todo mundo sabia que era capaz, mas que preferia permanecer na defensiva e escondida para não se dececionar.
Aprendi a me contentar com o pouco, aprendi a aceitar qualquer coisa, aprendi a deixar os outros pisarem em mim e usarem-me como escada, aprendi a aguentar relacionamentos tóxicos, aprendi a sobreviver dentro de uma estrutura familiar desequilibrada, aprendi a colocar as prioridades dos outros acima daquilo que eu queria e, acima de tudo, aprendi a duvidar das minhas capacidades.
Helena, nem sempre foi a pessoa confiante que vocês veem, ela começou a enfrentar lutas com o seu corpo e sua aparência, com o seu problema com alimentação, com o seu temperamento forte, com a falta dos pais, e com o mundo no geral. Ela começou a viver em constante guerra, onde ela seria a capitã e o batalhão todo, ela não tinha ninguém com quem contar mesmo tendo mil pessoas ao seu redor.
Fico triste por saber que deixei ela vivenciar isso por tanto tempo, queria ter dito mais cedo para ela "Não temas, tu estás neste mundo para seres tu, estás cá para errar, aprender e crescer". Por outro lado, fico feliz por saber que não foi tarde para libertá-la dela, na verdade nunca será tarde.
Então, Helena, o que este discurso todo tem haver com chaves e fechaduras? Perguntas tu. É preciso trocar a chave ou a fechadura para mudarmos esse cenário nas nossas vidas?
Bem, nem uma nem outra, eu diria que é necessário trocar a porta, o carpinteiro, o chaveiro, a chave, a fechadura e tudo o que for necessário. Agora é hora da nova Helena olhar para tudo o que ela viveu e ver o que ainda pode recuperar de lá e ,daí começar a construir a sua nova vida.
Sem medo de deixar, quem quer e o que quer que seja, ir embora. Ela percebeu que é hora de deixar a sua fé e confiança florescerem. Agora ela não quer provar ao mundo do que ela é capaz porque a única pessoa que precisa desta certeza é ela mesma.
Tanto eu quanto ela sabemos que não é fácil gerir esta vida mas, é hora de sairmos da zona de conforto, é hora de darmos tudo de nós, é hora de crescermos, mas, acima de tudo é hora de vivermos.
Beijos dela e Mbora trocar essas portas e tudo o que for necessário e começarmos a viver.